segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Maneira escura e ignorante de avacalhar a arte do futebol


Por Eduardo Berodia
 
 
 
No futebol atual, sem sombra de duvidas, Messi “é o cara”.
Resulta até enfadonho explicar, e enumerar, as razões  que levam o menino argentino do Barcelona a ser considerado o melhor jogador do mundo nas ultimas três temporadas. E tem tudo para sacramentar uma quarta consagração.
Hoje, para aqueles que consideram o futebol como alguma coisa a ser medida na régua, a disputa é para saber se Messi é melhor do que o Pelé. Boa e inútil pergunta. Pelé e Messi não merecem serem rebaixados a esse tipo de debate.
Essa duvida, quase implacável,  condena outros talentos automaticamente a um terceiro lugar, meio que como castigo. E nesse  terceiro lugar, ou terceiro plano, estão nada mais  e nada menos que Diego Armando Maradona, Zico, Sócrates, Garrincha, Gerson... .
Faço agora uma provocação. Quem é melhor? Jorge Luiz Borges ou Jorge Amado? Julio Cortázar ou Machado de Assis? Gabriel García Márquez ou Graciliano Ramos?
Candido Portinari ou Benito Quinquela Martín? Steven Spielberg ou Francis Ford Coppola? Brian de Palma ou Martin Sorcese? Robert de Niro ou Al Pacino?
Como se faz para medir a grandeza de um jogador de futebol? Zico ficaria aleijado dessa disputa? E Sócrates? E Falcão? E Garrincha? E Nilton Santos? E Mario Kempes?
E Platiní?. E Zidane?
Confesso que me debrucei nessa questão por sentir que reunia condições  para esclarecer essa disputa. Afinal, assisti Pelé jogar inúmeras vezes na TV e uma única vez ao vivo no estádio do Club Atlético Huracán em 1974, em Buenos Aires, em um amistoso para comemorar a “faixa” de campeão que o Huracan tinha conquistado brilhantemente em 1973, e que o Santos carimbou com um 4 x 1. O gol de Pelé foi antológico.
Como se não bastasse, assisti inúmeras vezes ao vivo o jovem Maradona na sua época de Argentinos Juniors e posteriormente do Boca Juniors, antes de ser transferido para o Barcelona. Na sua passagem pelo Napoli, os jogos eram transmitidos pela  TV sempre aos domingos no final da manhã . Posteriormente, já morando no Brasil, cansei de ver o Maradona do Nápoli ser elogiado com entusiasmo pelo Luciano do Vale e pelo Silvio Luiz nas transmissões da Band nos domingos pela manhã.
Porém, essa experiência me pareceu insuficiente.
 Hoje assisto religiosamente os jogos do Barcelona e sinto enorme prazer em ver a Messi, Xavi e Iniesta. E não entendo como pode ser  possível condenar a um segundo plano o futebol de Cristiano Ronaldo, de Di Maria, de Ibraimovic, de Falcão Garcia, de Drogba.
Para finalizar, acredito que a obsessiva  busca pela transformação do futebol num grid de Formula 1 é completamente sem propósito. É negar a beleza, é negar a plasticidade, é querer comparar o Uirapuru de Tarsila de Amaral com a Gioconda. Para qué?, se é muito melhor desfrutar da beleza de todos eles. 
Para qué deixar de sentir prazer diante de um quadro de Goya? Ou de Rafael Sanzio? Ou de Boticelli? Ou de Velazquez? Com que propósito vamos desmerecer Euclides da Cunha em comparação com Spencer? Por que iríamos desmerecer Vinicius de Moraes ao comparar com Astor Piazzolla? Qual é o propósito? Negar a arte?
Futebol é arte, é plasticidade, é genialidade, é talento. Sejam louvados todos aqueles que contribuem para enaltecer a arte do futebol.
Estabelecer um número “1” para negar todos os outros, me parece uma maneira escura e ignorante de avacalhar a arte do futebol.
Eduardo Berodia, 53 anos, argentino, médico, estudioso do futebol portenho, e torcedor do Club Atlético Huracán.