Real Madrid 0 x 5 Barcelona
Temporada 1973/74
22ª rodada da Liga Espanhola, em 17 de fevereiro de 1974.
Ficha técnica da partida:
Real Madrid: Garcia Remón; Morgado, Benito, Zoco e Rubiñan; Pirri, Velázquez e Netzer; Aguilar, Amâncio e Macanás.
D.T: Luis Molowny Arbelo*
*Luis Molowny, assumiu o comando técnico do time merengue apenas um mês antes do derby com o Barcelona, e com a responsabilidade de substituir o consagrado treinador Miguel Muñoz, que havia conquistado para o Real Madrid, entre 1960 e 1974, 9 títulos da Liga espanhola; Duas Copas da Espanha; Duas Copas da Europa e uma Copa Intercontinental.
Barcelona: Mora; Rifé, Torres, De La Cruz; Costas, J.C.Perez; Asensi, Marcial, Cruyff, Rexach e Sotil.
D.T: Rinus Michels, holandês que também comandou Cruyff no Ajax, e na seleção holandesa, vice-campeão do mundo, em 1974.
Gols: Asensi (30’), Cruyff (39’), Asensi (54’), Juan Carlos Perez (65’) e Sotil (69’).
Árbitro: Orrantia Capelastegui
Estádio: Santiago Bernabéu.
O Barcelona chegava a este jogo, como líder do campeonato, somando 31 pontos. O Real Madrid, 9 pontos atrás do clube catalão, era o 7º na tabela de classificação.
Ao final das 34 rodadas (18 clubes disputavam a Liga), o Barcelona se sagrou campeão com 50 pontos, o segundo colocado foi o Atlético de Madrid com 42 pontos, e o Real Madrid foi apenas o 8º colocado na tabela, com a soma de 34 pontos.
Assim como na seleção holandesa que cerca de quatro meses depois, na Copa do mundo de 1974, sob o comando do mesmo Rinus Michels, apresentaria ao mundo do futebol um 4-3-3 com constante troca de funções táticas, ocupação de espaços e marcação forte na intermediária contrária, o Johan Cruyff do Barcelona, também não possuía posicionamento fixo em campo.
No FC Barcelona Cruyff era o organizador de tramas ofensivas, na medida em que recuava até sua intermediária defensiva para receber o 2º passe, na saída de bola da equipe catalã (como Xavi); era o ponteiro ou meia-extremo, se apresentando pelos flancos para jogadas individuais agudas, em busca da linha de fundo (assim como Iniesta no 4-2-3-1 da seleção espanhola), e ainda, se posicionando pelo centro da cancha de frente para o gol adversário, próximo a meia-lua, servindo de opção para a tabela, buscar o arremate, e por em prática sua notável qualidade técnica para vencer os volantes e zagueiros rivais no mano a mano (como Messi).
Mesmo escalado inicialmente como um atacante, camisa 9 as costas, dentro do flexível 4-3-3 daquele Barcelona dirigido por Michels, Cruyff não tinha uma obrigação tática constante de atuar próximo ao gol adversário.
“Cruyff jugava de lo que queria”
Juan Carlos Crespo, periodista espanhol
Vale registrar que apesar do holandês ter atingido a expressiva marca de 16 gols na temporada 1973/74, os volantes/meias, Juan Manuel Asensi e Marcial Manuel Morales, assinalaram respectivamente, 11 e 17 gols naquela mesma temporada, na medida em que também não guardavam posicionamento tático fixo naquele time de Michels.
Em determinada situação de jogo podiam estar protegendo a frente da zaga ou as subidas dos laterais, principalmente pelo lado esquerdo, e em outros momentos do jogo, chegando à frente com constância, para concluir em gol, como nesta goleada sobre o time madrileno, quando Asensi marcou seu primeiro gol na partida, pós-jogada de Marcial pela ponta direita.
O camisa 11 Marcial, se projetou pelo flanco direito de ataque como falso ponteiro, driblou um marcador, penetrou na grande área merengue, e com um cruzamento curto e rasteiro, serviu a Asensi que chegava detrás, dentro da pequena área, para abrir o marcador no Santiago Bernabéu.
Os homens de frente que mais ocupavam os lados do campo no setor de ataque, naquele 3-2-5 identificado pelo periodista espanhol Juan Carlos Crespo, e pelas fotos destacadas ao final deste post, era o peruano, Hugo Sotil Yeren, com 11 gols assinalados, e o espanhol e camisa 7, Carles Rexach Cerda, autor de 9 gols na vitoriosa temporada do time catalão, que além de não guardar posição dentro do campo ofensivo, dividia com Cruyff, a responsabilidade pela cobrança dos lances de bola parada, nos lados da cancha.
Rexach, jogador cria do Barcelona, também foi destacado treinador nas divisões de base do clube, e trabalhou como auxiliar técnico de Cruyff no clube catalão, de 1988 até 1996.
Diagramas Táticos ilustrativos
Um 4-3-3 muito flexível (diagrama 1), um 3-2-5 (diagrama 2), identificado pelo periodista do El País e Canal +, o espanhol Juan Carlos Crespo, quando o camisa 4 Henrique Álvarez Costas se posicionava mais próximo do grande círculo central do que da sua meia-lua, e ainda, um 1-4-1-4 (diagrama 3), na medida em que o camisa 3 Torres jogava na sobra, atrás de uma linha de 4 homens posicionados a sua frente, e com os constantes recuos do camisa 9 Johan Cruyff, e avanços de Asensi e Marcial, formando outra linha de 4 com a companhia ofensiva de Rexach e Sotil.
Flagrantes táticos
Exemplo da composição do 1-4-1-4: Cruyff (assim como Xavi no Barcelona) recua para receber o 2º passe e começar mais uma trama ofensiva do time catalão. Este 2º passe podia sair dos pés do lateral esquerdo De La Cruz, do camisa 4 Henrique Alvarez Costas, e do camisa 6 Juan Carlos Pérez.
Cruyff como autêntico homem de ligação, recebe a pelota no centro do campo, e os volantes/meias, Marcial e Asensi se projetam ao ataque.
Exemplo de uma frente formada por 5 jogadores altamente ofensivos: Cruyff parte com a bola dominada, tendo a sua frente, próximo ao árbitro, o camisa 11 Marcial. Mais a diante, na direção do holandês, o camisa 8 Asensi, e se deslocando pelo lado esquerdo, o peruano e camisa 10 Sotil.
Flagrante do posicionamento do camisa 3 Torres Garcia, como homem da sobra, tendo a sua frente uma linha de 4 jogadores.
Exemplo da variação 3-2-5, com o camisa 4 Henrique Alvarez Costas posicionado adiantado,como volante, a frente de uma linha de 3 jogadores.
Exemplo da variação 3-2-5, com o camisa 4 Henrique Alvarez Costas posicionado adiantado,como volante, a frente de uma linha de 3 jogadores.
Cruyff como duble de ponteiro ou meia-extremo (como Iniesta na seleção espanhola ou Messi no mesmo Barcelona e no selecionado albiceleste) em jogada individual pelo flanco direito da intermediária catalã.
Flagrante do golaço marcado por Cruyff, que penetrou pelo meio da grande área merengue, e após driblar dois zagueiros, deixou o placar em 2 a 0 para o Barcelona, ainda no primeiro tempo de partida.
Cruyff se projetando (repare que ele não se posiciona de costas para o gol adversário, tal qual Messi no Barça) para receber passe de Marcial, pela faixa central da cancha.
Um comentário:
Excelente post! está aí o embrião do Barça que vemos hoje. A ida de Cruyff e Michels enraizaram um estilo de jogo nos "Culés". É uma pena que, jogando pelo Barça, Cruyff não venceu uma Liga dos Campeões. Interessante também é ver a tabela final de um campeonato não tão polarizado. Abraço!
Postar um comentário