Por Eduardo Berodia
No futebol atual, sem sombra de duvidas, Messi “é o cara”.
Resulta até enfadonho explicar, e enumerar, as razões que levam o menino argentino do Barcelona a ser
considerado o melhor jogador do mundo nas ultimas três temporadas. E tem tudo
para sacramentar uma quarta consagração.
Hoje, para aqueles que consideram o futebol como alguma
coisa a ser medida na régua, a disputa é para saber se Messi é melhor do que o
Pelé. Boa e inútil pergunta. Pelé e Messi não merecem serem rebaixados a esse
tipo de debate.
Essa duvida, quase implacável, condena outros talentos automaticamente a um
terceiro lugar, meio que como castigo. E nesse terceiro lugar, ou terceiro plano, estão nada
mais e nada menos que Diego Armando
Maradona, Zico, Sócrates, Garrincha, Gerson... .
Faço agora uma provocação. Quem é melhor? Jorge Luiz Borges
ou Jorge Amado? Julio Cortázar ou Machado de Assis? Gabriel García Márquez ou
Graciliano Ramos?
Candido Portinari ou Benito Quinquela Martín? Steven Spielberg ou Francis Ford
Coppola? Brian de Palma ou Martin Sorcese? Robert de Niro ou Al Pacino?
Como se faz para medir a grandeza de um jogador de futebol?
Zico ficaria aleijado dessa disputa? E Sócrates? E Falcão? E Garrincha? E
Nilton Santos? E Mario Kempes?
E Platiní?. E Zidane?
Confesso que me debrucei nessa questão por sentir que reunia
condições para esclarecer essa disputa.
Afinal, assisti Pelé jogar inúmeras vezes na TV e uma única vez ao vivo no
estádio do Club Atlético Huracán em 1974, em Buenos Aires, em um amistoso para
comemorar a “faixa” de campeão que o Huracan tinha conquistado brilhantemente
em 1973, e que o Santos carimbou com um 4 x 1. O gol de Pelé foi antológico.
Como se não bastasse, assisti inúmeras vezes ao vivo o jovem
Maradona na sua época de Argentinos Juniors e posteriormente do Boca Juniors,
antes de ser transferido para o Barcelona. Na sua passagem pelo Napoli, os
jogos eram transmitidos pela TV sempre
aos domingos no final da manhã . Posteriormente, já morando no Brasil, cansei de
ver o Maradona do Nápoli ser elogiado com entusiasmo pelo Luciano do Vale e
pelo Silvio Luiz nas transmissões da Band nos domingos pela manhã.
Porém, essa experiência me pareceu insuficiente.
Para finalizar, acredito que a obsessiva busca pela transformação do futebol num grid
de Formula 1 é completamente sem propósito. É negar a beleza, é negar a
plasticidade, é querer comparar o Uirapuru de Tarsila de Amaral com a Gioconda.
Para qué?, se é muito melhor desfrutar da beleza de todos eles.
Para qué deixar de sentir prazer diante de um quadro de
Goya? Ou de Rafael Sanzio? Ou de Boticelli? Ou de Velazquez? Com que propósito
vamos desmerecer Euclides da Cunha em comparação com Spencer? Por que iríamos
desmerecer Vinicius de Moraes ao comparar com Astor Piazzolla? Qual é o
propósito? Negar a arte?
Futebol é arte, é plasticidade, é genialidade, é talento.
Sejam louvados todos aqueles que contribuem para enaltecer a arte do futebol.
Estabelecer um número “1” para negar todos os outros, me
parece uma maneira escura e ignorante de avacalhar a arte do futebol.
Eduardo Berodia, 53 anos, argentino, médico, estudioso do futebol portenho, e torcedor do Club Atlético Huracán.
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